Eu tento encontrar no vento um cheiro de mar. Desse que não sinto a tanto tempo. Não acho. A umidade hoje é pouca é doce. Sem cheiro de maresia. Sem gosto de sal. Só gosto de saudade.
domingo, 5 de fevereiro de 2017
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Renascida
Eu tenho uma amiga que se chama Renata. Renata foi minha amiga da adolescência. Uma das únicas. Não era muito sociável. Pra não dizer bastante não inclinada a confiar nas pessoas. O nome Renata significa renascida. E ela é escorpiana, o que faz todo sentido.
Durante muito tempo achei que por ser aquário e ela escorpião éramos totalmente opostas. Água e óleo. Mas o fato era que éramos amigas. Do tipo inseparáveis. Uma coisa assim sem explicação.
Mais tarde em uma das minhas incursões pela astrologia fui fazer nossos mapas completos. Hoje parece uma coisa trivial, mas no início dos anos 2000, além de não estar na moda, a internet ainda estava engatinhando. Não existiam muitos sites que ofereciam o mapa completo de graça. E obviamente eu não tinha dinheiro pra comprar um.
Então descobri que eu tenho lua em escorpião e a Renata lua em aquário. Como se a gente tivesse os sentidos profundos trocados. Eu sinto como ela deveria sentir e ela como eu.
Explicado o encontro.
Essa lua durante muito tempo foi, tal qual sua natureza, bastante oculta em mim. Até que se fez necessária. Pra alguém que tem sol e ascendente em ar, uma lua de água pode ser uma maldição ou uma uma benção. Pra mim foram as duas coisas. Acho que é bem isso. Ser água.
Escorpião é o signo da morte e do renascimento. Das profundezas da alma. Do que não se enxerga assim tão fácil. Daquela substância vital que são feitas as fontes da juventude, as águas que curam. Ela me curou. Agora eu já posso morrer de novo. Pra renascer mais um vez.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Aquarius
Trombei nessa música dá Regina Spector, sobre aquário, amei e estou registrando.
Dear someone listening in the shadows
I only talk to you sometimes
And though I ask for help in riddles
It is clearer in my mind
Clearer in my mind
Born of a sign that carries vessels
But in a month that's cold as ice
I know I question things too quickly
But I have never questioned if I've loved
Dear someone watching from the shadows
I'm clenching water in my fists
The drops, they slip right through my fingers
But there's water on my lips
Water on my lips
Born of a sign that carries vessels
But in a month that brings just ice
I know I question things too quickly
But I've never wondered if I've loved
Dear someone watching from the shadows
You've seen me lose all the water from my hands
I'm not a skillful water carrier
But the raindrops keep falling on my head
Falling on my head
Born of a sign that carries water
But in a month that brings just ice
I'm not a skillful water carrier
But I've learned to carry love
Learned to carry love
https://youtu.be/XCrYD4G9IWs
domingo, 25 de dezembro de 2016
Esperando o ano novo
Hoje é Natal. Vinte e cinco de dezembro. E eu já estou desde a semana passada pensando sobre o ano que quase passou. Dá um certo medo de falar sobre 2016 antes que ele esteja de fato terminado porque tecnicamente ainda dá tempo de acontecer muitas coisas. Foi um ano sofrido pra mim. Acho que essa é a palavra que o descreve melhor. Eu sofri. E por mais que já tenha sofrido muito em outras ocasiões desta vez a dor superou tudo que veio antes. É uma experiência muito bizarra, por falta de palavra melhor, se ver tão despedaçada a ponto de não conseguir enxergar os pedaços, que dirá juntá-los de novo. Foram uns bons meses numa espécie de limbo. Eu dizia que tava passando um tempo com a Samara, no fundo do poço. Talvez a capacidade de rir da própria desgraça seja um indício de que ainda existia muita vida em mim.
Um dia, a muitos anos atrás uma amiga, canceriana de sol e alma, em uma crise muito forte disse uma frase que a gente riu muito depois, mas que nesses meses fez todo sentido pra mim. Acho que ela define a depressão. A frase era "eu não vejo mais alegria numa flor". Eu não vejo mais alegria numa flor. Eu não vi também. Eu me sentia em um episódio de Caverna do Dragão, que eles entram num lugar que tem várias dimensões e em uma das salas o chão começa a desmoronar e eles caem. Eu caí. Passei muito tempo caindo. A queda foi grande e longa. E quando eu cheguei no fundo ainda não era o fundo. Era água. Então continuei o mergulho até as profundezas. E foi lá que eu achei os pedaços perdidos.
Tudo estava muito sujo. Era um poeira densa de um lugar que não era limpo há muito tempo. Durante um tempo eu só fucei pra ver o que tinha ali. Achei várias coisas muito bem escondidas e encobertas pelo pó. Coisas que eu nem lembrava que um dia existiram. E depois da exploração veio a faxina. A parte mais difícil, trabalhosa e demorada. E durante a limpeza surge a necessidade de decidir o que fica e o que deve ser jogado fora. E eu sou uma acumuladora. Uma acumuladora em processo de recuperação, mas ainda assim muito propensa a guardar coisas. Foi um processo complicado. Mas limpando eu pude enxergar de novo os tesouros escondidos e consegui me livrar de muita tralha. Muita. A culpa é a mais difícil de jogar fora porque ela é camaleônica. Se camufla no ambiente, você acha que se livrou dela, mas quando menos espera ela surge. E aí o trabalho recomeça. É preciso capturá-la, cortar a cabeça e tacar fogo. Ela é ruim de queimar, mas com persistência dá certo.
Agora dá pra enxergar o ambiente. Muitos espaços abertos para serem preenchidos, apesar de não ter conseguido limpar tudinho. Acho que é quase impossível fazer isso. Os lugares fechados sempre juntam pó. Mas muitas coisas também ficaram e se tornaram mais claras pra mim. Ficou evidente o que me edifica. As estruturas. O que não se deve nem pode mexer. A limpeza me fez ver onde eu não posso mexer. E isso é muito importante.
Astrologica e espiritualmente meu desafio era encarar a morte. Ela apareceu em todos os oráculos que eu consultei. E foram muitos, eu sempre apelo quando nada faz sentido. Ela apareceu sob diversas formas. Todas terríveis. E eu fui obrigada a me reconciliar e admiti-la como parte do ciclo. Necessária. Como os seres decompositores da cadeia alimentar que os aluninhos estavam aprendendo. Sem decomposição não há vida nova. Tem beleza no apodrecimento; no excremento que também é adubo. Eu posso dizer que passei um bom tempo literalmente na merda. Muita merda. Eu tive que pegar a enxada e misturar tudo na terra. E quando a enxada não era suficiente teve que ser com a mão mesmo. O chão ficou fértil. Ainda não sei o que plantar de novo, mas muito do que estava murcho voltou a crescer.
E por incrível que pareça coisas bem bonitas nasceram esse ano. E um sonho bateu na minha porta na hora que eu menos esperava. E esse abençoado marte em sagitário me fez ir embora com ele de peito aberto. Foi a melhor coisa que poderia ter feito. E eu tive apoio de quem eu nem esperava. Duas surpresas. Dois presentes. Dois encontros de alma. Não faltou amor em 2016. Nem pra mim, como eu achava que seria, nem em mim. De um jeito inexplicável o que estava fadado a morrer, renasce quase diariamente, maior. Também não procuro explicação. Esse foi o aprendizado desse ano: nem tudo é possível de se racionalizar e tentar só causa ainda mais angústia.
Pode vir Saturno. Volta que eu tô pronta pra encontrar!
domingo, 18 de dezembro de 2016
Nó
A angústia vem de quando em quando
E eu ainda misturo o que é seu e o que é meu
Esse aperto no peito, de onde vem?
A quem pertence?
É seu?
É meu?
Tontura e formigamentos
Cadê o motivo?
O que é esse ruim que vem tomando conta de tudo?
Que preenche todos os espaços de vazio
E dor
Aqui ou aí?
Só sei que aqui eu sufoco
Só
Vida
A morte ronda
Sonda
Pega na curva
Os desavisados
Que nem tão desavisados
São
A morte não poupa
Rouba
Ceifa
E abre espaço
Pro que tem de vir
A morte golpeia
Derrama sangue
Molha a terra
E brota
Viva